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O que está acontecendo com os cães da raça Border Collie?

Me fiz esta pergunta esses dias devido aos inúmeros casos de problemas comportamentais com esta raça.

O que mais me chamou a atenção foi a similaridade dos problemas entre esses tutores e seus cães, parece que as queixas são sobre o mesmo cão.

Antes fosse, mas na verdade não é, são vários cães com as mesmas questões. Todos esses cães tem em comum a insegurança e o medo, principalmente de pessoas e outros cães,  alguns casos são tão severos que culminam em agressividade por medo.

Infelizmente não tenho a oportunidade de ajudar pessoalmente em todos os casos, por isso criei um workshop de psicologia canina para ajudar quanto mais eu puder,  Tenho trabalhado um caso especificamente que tem me feito refletir na maneira como os tutores desses cães tem lidado com eles.

Tudo começa com a motivação por trás da escolha desta raça,  geralmente a inteligência e o potencial para truques estão no topo do ranking, mas também existem pais que compram este tipo de cachorro a pedido de seus filhos.

A maioria dos donos de Border Collie que conheci não tinham a menor idéia do que significaria ter um cão de trabalho dentro de sua casa, muitas vezes dentro do seu apartamento. Tornou-se “comum” o abandono porque as pessoas não sabem o que fazer para ajudar os cães.

Esses dias soube de uma pessoa que abandonou um filhote de Border Collie com 5 meses de idade em uma creche canina. Simplesmente por “não querer mais” aquele filhote “agitado”. Lamentável.

Em um dos casos que atendi, a família estava tão preocupada com o estado do cachorro que decidiram fechar todas as janelas do apartamento porque tinham medo que o cão saltasse do décimo sétimo andar, isso porque o cachorro pastoreava na varanda todos os carros que passavam pela avenida.

Quando conheci o cão percebi imediatamente a insegurança e o medo dominando o animal, o fazendo fugir para se esconder em cima das cadeiras da mesa de jantar. Onde está a razão de tanto medo e insegurança?

Antes de falar da raça, devemos falar do animal e sua espécie.  Todo animal tem uma função na natureza, toda espécie determina como esta função será cumprida.

Se não houvessem raças os cães seriam segregados pelos humanos por aptidões, uns para caça de grandes animais, para caça de pequenos animais,  para caça de aves, para proteger  as propriedades, para pastorear,  todas essas características definiriam exatamente a função de cada animal, além, é claro, de se reproduzir e sobreviver.

O cumprimento destes papeis garante a realização do animal, garante a auto estima e a confiança dele. Produz o sentimento de pertencimento em um contexto social do qual é vital a participação dele. Privar o cão do trabalho, do cansaço saudável e dos desafios da vida canina é a raiz da insegurança.  O cão está perdido no nosso mundo,  ele perdeu sua própria identidade e o medo será a consequência.

Quando trazemos um animal para nossa vida não pensamos nas necessidades dele, mas na nossa, um cão é o animal que poderá lhe dar todo amor incondicional de que o humano precisa, mas será que estamos prontos a devolver este amor em forma de um vida mais natural para cão?

Aqui está o cerne: podemos reproduzir a vida natural de um cão para satisfaze-lo e deixa-lo equilibrado e feliz? Eu afirmo que sim, é possível adaptarmos atividades que remontem a estrutura natural da vida canina.

Vou relacionar aqui o que em comum faltava para estes cães que atendi: atividades físicas especificas e intensas, um conjunto de regras e recompensas adequadas. Você pode imaginar o que é um cão com predisposição à atividades físicas, fazendo tudo o que quer e recebendo carinho e comida o tempo todo sem estrutura? O resultado é um cão psicologicamente desequilibrado.

Fiquei feliz com o progresso no caso que tenho trabalhado,  pude ver a transformação de um cachorro que saía com rabo entre as patas se esquivando de tudo e todos, ficar confiante e orgulhoso usando mochila canina durante a caminhada ou envolvido numa corrida ao lado da bicicleta.

Tudo que fiz foi motivar a aptidão daquele cão pelo trabalho.  Ensinei e ensino a como superar suas questões com outros cães e pessoas. Inseri este indivíduo num contexto grupal, onde ele tem seu papel e posição.

Demonstro respeito por suas limitações e sei esperar o momento em que ele dará um passo a mais em nossa relação de confiança,  mas continuo o motivando a seguir em frente e a redescobrir todo o potencial que ele carrega dentro dele.

Minha experiência tem mostrado que os cães do grupo dos esportistas e o trabalhadores tem sido negligenciados em seu potencial.

Você que é tutor de um cão da raça Border Collie: o que você tem feito para manter seu cachorro equilibrado?

Não adianta termos o cão mais inteligente do mundo se não o desafiamos a ponto de extrair o melhor dele. Pense nisso.

Autor: Roberto Medeiros

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